
Uma dúvida comum entre os investidores é para onde vai o dinheiro quando os preços das ações desabam. A verdade é que ele não desaparece, mas sim reflete uma mudança na percepção de valor do ativo. Em vez de ser uma movimentação física de dinheiro, a queda de preço significa que os investidores agora estão dispostos a pagar menos pela ação.
Por exemplo, imagine que você compra 100 ações da Apple (AAPL) por US$ 150 cada. Se surgirem problemas na cadeia de suprimentos ou um novo produto da empresa não tiver o desempenho esperado, os investidores podem perder a confiança, reduzindo o preço da ação para US$ 100.
Isso não significa que você perdeu US$ 50 por ação em dinheiro real, mas sim que o mercado passou a avaliar a Apple em um patamar inferior. Esse fenômeno é semelhante à desvalorização de um carro novo: o veículo continua o mesmo, mas seu valor de revenda diminui.
No entanto, essa perda só se concretiza se você vender suas ações por um preço menor do que pagou. Por isso, entender esse conceito é essencial para evitar decisões precipitadas e se manter firme diante das oscilações do mercado.
Por que os preços das ações oscilam?
A variação no preço das ações é determinada, em grande parte, pela oferta e demanda. Quando mais pessoas querem comprar uma ação do que vender, seu preço sobe. Por outro lado, se há mais vendedores do que compradores, o preço tende a cair, pois os investidores reduzem o valor para atrair compradores.
Esse jogo de forças entre oferta e demanda é o que define os preços e as tendências do mercado de ações.
O que faz o preço de uma ação disparar?
Um exemplo claro de valorização extrema ocorreu entre 2020 e 2021, quando as ações da Tesla (TSLA) registraram uma impressionante alta de 700%, mesmo durante a pandemia.
Esse crescimento acelerado foi impulsionado pelo otimismo dos investidores em relação ao potencial da Tesla no mercado de veículos elétricos, seus planos de expansão e as ambições do CEO Elon Musk.
No início de 2021, a Tesla ultrapassou US$ 800 bilhões em valor de mercado, tornando-se uma das montadoras mais valiosas do mundo – isso mesmo produzindo apenas 509.000 veículos em 2020, um volume muito menor do que montadoras tradicionais como Toyota e Volkswagen.
Por que uma ação pode despencar?
Da mesma forma que os preços das ações sobem, também podem cair rapidamente.
Em janeiro de 2022, por exemplo, a Netflix (NFLX) divulgou um crescimento de assinantes abaixo do esperado para o quarto trimestre de 2021. A empresa adicionou 8,3 milhões de novos assinantes, enquanto o mercado projetava 8,5 milhões. Apesar da diferença pequena, a reação foi imediata: os investidores perderam confiança, e as ações da Netflix despencaram 21,8% em um único dia.
Nos meses seguintes, a situação piorou, e as ações da empresa chegaram a acumular uma queda de quase 70% até abril de 2022. Esse declínio foi intensificado por preocupações com o aumento da concorrência de plataformas como Disney+, Hulu e HBO Max.
O que leva as ações a perderem valor?
A desvalorização de uma ação pode ser explicada por dois fatores principais: o desempenho real da empresa (seus fundamentos) e a forma como os investidores interpretam essas informações (sentimento de mercado).
- Boas notícias, como lucros acima das projeções ou inovações no setor, elevam a confiança e impulsionam os preços.
- Más notícias, como resultados decepcionantes ou incertezas econômicas, geram medo e levam os investidores a vender, derrubando os preços.
A seguir, veja algumas das principais razões que fazem as ações caírem:
1. Mudanças no humor dos investidores
Quando o preço de uma ação cai, isso pode desencadear um efeito cascata no mercado.
Imagine que as ações da Apple caiam de US$ 150 para US$ 140. Um investidor que possui 100 ações verá seu patrimônio diminuir US$ 1.000 em valor de mercado. Se muitos investidores reagirem vendendo suas ações por medo de novas quedas, isso pode aprofundar ainda mais a desvalorização.
Esse efeito psicológico é exatamente o que aconteceu com a Netflix em 2022. Após divulgar um crescimento de assinantes abaixo do esperado, muitos investidores entraram em pânico e venderam suas ações, amplificando a queda do preço.
Enquanto alguns enxergam essas quedas como oportunidades de compra, outros preferem reduzir suas perdas e sair do mercado, criando um ciclo de volatilidade.
2. Resultados financeiros fracos
Quando uma empresa apresenta lucros, receitas ou projeções abaixo do esperado, os investidores podem perder a confiança na sua capacidade de crescimento. Isso geralmente leva a uma onda de vendas, pressionando os preços para baixo.
3. Crises econômicas
Durante períodos de recessão, os consumidores gastam menos, e as empresas reduzem investimentos. Com a queda na atividade econômica, os lucros diminuem e as ações passam a valer menos. Nessas situações, muitos investidores buscam ativos mais seguros, acelerando a desvalorização das ações.
4. Aumento das taxas de juros
Quando os bancos centrais aumentam a taxa de juros, o crédito fica mais caro para empresas e consumidores. Isso reduz os lucros corporativos e os gastos da população, impactando o mercado acionário.
Além disso, os títulos de renda fixa passam a oferecer retornos mais atrativos, o que leva investidores a venderem ações e migrarem para esses investimentos.
5. Incertezas geopolíticas
Crises internacionais, guerras e disputas comerciais podem gerar instabilidade no mercado financeiro. Diante dessas incertezas, os investidores costumam reduzir sua exposição a ativos de risco, o que pode causar quedas generalizadas nos preços das ações.
Como se proteger das quedas do mercado?
Embora as oscilações sejam inevitáveis, há formas de minimizar os riscos e manter a carteira de investimentos protegida.
1. Adote uma estratégia de longo prazo
Manter um horizonte de investimento a longo prazo ajuda a superar períodos de volatilidade. Historicamente, o mercado de ações tende a valorizar no longo prazo, recompensando os investidores pacientes.
Quem evita vender no pânico e mantém seus ativos costuma obter melhores resultados ao longo dos anos.
2. Diversifique seu portfólio
Investir em diferentes classes de ativos – como ações, títulos, imóveis e commodities – reduz os impactos de uma crise em um setor específico.
Além disso, distribuir investimentos entre diferentes setores e regiões geográficas ajuda a suavizar as oscilações do mercado.
3. Invista em setores mais estáveis
Empresas do setor de bens de consumo, saúde e serviços essenciais tendem a ser mais resilientes durante crises. Por oferecerem produtos indispensáveis, seus lucros sofrem menos impacto em períodos de instabilidade econômica. Assim, vale a pena olhar para os chamados setores defensivos.
Conclusão
Quando os preços das ações caem, o dinheiro não desaparece – apenas reflete uma mudança na percepção do mercado.
Entender os fatores que influenciam essas oscilações e adotar estratégias como diversificação, visão de longo prazo e investimentos em setores mais sólidos pode ajudar a reduzir riscos e aproveitar melhor as oportunidades do mercado de ações.