Nesta sexta-feira (29), o dólar alcançou a máxima intradia a R$ 6,11 no mercado à vista, se estabilizando a R$ 6,09 até o momento (11h:28). Investidores estendem o mau humor com o pacote fiscal anuciado pelo ministro Fernando Haddad e precificam também o discurso de ontem de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, que volta a falar hoje em almoço na Febraban com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (11h30). Questões como investimentos em mercados mais seguros também impactam o valor da moeda americana.
Economistas contestam a economia de R$ 71,9 bilhões anunciada pelo Executivo. Para a Warren Investimentos, a economia do pacote deve ser de 62% do valor anunciado, ou cerca de R$ 45 bilhões. O Itaú Unibanco calcula um potencial de economia de R$ 53 bilhões nos próximos dois anos, 2025 e 2026, enquanto nas contas da Monte Bravo, as medidas resultarão numa contenção de despesas em torno de R$ 40 bilhões a R$ 45 bilhões.
Galípolo enfatizou em evento ontem do Esfera Brasil que a autarquia segue comprometida com a meta de inflação de 3%, mesmo em um cenário de desancoragem das expectativas inflacionárias, que ele classificou como uma preocupação significativa para o BC.
Com uma economia aquecida, crescimento surpreendente e desemprego baixo, Galípolo reforçou a necessidade de uma política monetária mais restritiva. Ele comparou o papel do BC ao “chato da festa”, que diminui o som quando as coisas parecem estar indo bem. “Mas isso acontece para desacelerar e as coisas não saírem do controle”, disse.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, atribuiu ao BC a responsabilidade pela alta do dólar, e disse que o governo deve explicar as medidas e que o dólar vai baixar. “Estamos em contagem regressiva para ter não um Banco Central que seja com olhar para o Executivo, mas um Banco Central que tenha um olhar para o Brasil”, acrescentou.
O dólar também se valoriza por “questões externas”
Na visão do chefe-estrategista do Grupo Laatus, Jeferson Laatus, o dólar acima dos R$ 6 reforça a percepção de que muitos investidores buscam proteger seu capital em mercados mais estáveis, como os Estados Unidos e a Europa, diante de um cenário doméstico de desequilíbrio fiscal e medidas que desincentivam o capital de longo prazo.
Além disso, fatores externos também contribuiu para a valorização do dólar. Felipe Vasconcellos, Sócio da Equus Capital, afirma que a reeleição de Trump pode impactar o ciclo de redução das taxas de juros americanas devido às políticas protecionistas e potencialmente inflacionárias que são esperadas quando ele tomar posse. Isso exigirá “maior cautela do banco central americano na condução do seu processo de afrouxamento monetário, gerando um efeito cascata para outros países desenvolvidos uma vez que os juros americanos costumam servir de base para suas respectivas políticas de juros”, destaca o especialista.
Com Estadão Conteúdo