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China amplia presença no Brasil com foco em agronegócio, energia limpa e carros elétricos

China amplia presença no Brasil com foco em agronegócio, energia limpa e carros elétricos

O acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China, marcado por novas tarifas e retaliações, tem provocado uma reconfiguração no comércio global e redirecionado fluxos de capital. Nesse novo cenário, o Brasil desponta como um destino estratégico — principalmente em setores como agronegócio, infraestrutura, energia e mobilidade elétrica.

Essa é a avaliação de José Ricardo dos Santos Luz Júnior, CEO do LIDE China. Segundo ele, o Brasil já está no radar de autoridades e empresários chineses, tanto como alternativa às importações americanas quanto como receptor de investimentos em áreas consideradas prioritárias.

“Em uma guerra comercial, ninguém sai vencedor. Mas ela cria oportunidades que o Brasil pode aproveitar — como fornecedor agrícola, destino de capital chinês e parceiro em inovação”, afirmou Luz Júnior ao Suno Notícias.

Soja brasileira ganha protagonismo com recuo das compras dos EUA

Com a redução das compras chinesas de soja dos Estados Unidos, o Brasil vem consolidando sua posição como principal fornecedor do grão. Em 2023, aproximadamente um terço da produção agrícola brasileira teve como destino a China. A expectativa é de que a safra de 2025, com produtividade 10% maior, reforce ainda mais essa liderança.

“A China já iniciou diálogos com o Brasil. O comprador está pronto, mas o nosso gargalo está na logística”, pontua Luz Júnior.

A infraestrutura deficitária — que envolve desde portos até ferrovias — é apontada como o maior obstáculo. Representantes do governo chinês já estiveram no país para discutir formas de garantir uma entrega estável de alimentos para uma população de 1,4 bilhão de pessoas.

“Ter demanda não é suficiente. É preciso capacidade técnica e previsibilidade. O Brasil precisa apresentar um projeto consistente”, destaca.

Investimentos ganham força em energia, inovação e mobilidade

Os investimentos diretos da China no Brasil vêm se diversificando. Em 2023, o montante somou US$ 1,7 bilhão, com aportes distribuídos por setores como energia elétrica (incluindo pré-sal e renováveis), mineração e agronegócio.

A State Grid segue como principal investidora, mas a presença de empresas de tecnologia e energia limpa já se faz notar. A BYD está construindo uma fábrica na Bahia, enquanto a GWM assumiu a antiga planta da Mercedes-Benz em Iracemápolis. Outras marcas, como Zeekr, Jaecoo e GAC, também têm planos para operar no mercado brasileiro.

De acordo com Luz Júnior, áreas como 5G, big data, computação em nuvem, energia solar, hidrogênio verde e veículos elétricos estão entre as prioridades da China — e o Brasil pode se posicionar como um polo estratégico, especialmente diante da retração chinesa nos Estados Unidos.

Ele ainda recomenda que investidores fiquem atentos aos setores diretamente relacionados a esse movimento, como logística, insumos agrícolas, infraestrutura e toda a cadeia de energia e mobilidade.

Relação entre Brasil e China entra em nova fase

Em 2024, Brasil e China celebraram 50 anos de relações diplomáticas. A expectativa é de que as trocas comerciais e institucionais entre os dois países se intensifiquem. Durante o G20 realizado no Rio de Janeiro em 2024, Brasil e China assinaram 37 acordos em áreas como agricultura, economia, setor aeroespacial e cultura.

“No ano 2000, o comércio entre os dois países somava US$ 1 bilhão por ano. Em 2025, esse mesmo volume é atingido a cada 55 horas”, afirma Luz Júnior. “Essa é uma relação que ultrapassou o campo diplomático. Hoje ela se sustenta em pilares econômicos, sustentáveis e tecnológicos — e deve se aprofundar ainda mais nos próximos anos.”

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